fevereiro 12, 2007

Entrevista com Paul Auster: ‘O autor, depois de alguns anos, deixa de existir. Os personagens, não.’

Durante a elaboração de um livro, seus personagens também parecem vivos? Eles buscam caminhos diferentes do traçado pelo senhor?

AUSTER: Sim, eles me surpreendem o tempo todo. Quanto mais eu os conheço, mais inesperadamente eles agem. O grande paradoxo é que um escritor é uma pessoa real. Ele vai ficando cada vez mais velho e, em algum momento, morre. O autor, depois de alguns anos, deixa de existir. Os personagens, não. Eles, que não existiam num primeiro momento, acabam vivendo além do escritor.

Homens de meia-idade, escritores, nova-iorquinos... A impressão que fica é que sempre há um pouco do senhor em seus personagens. O escritor sempre está dentro de seus personagens?

AUSTER: Eu sei que as pessoas lêem meus romances e acham que há semelhanças com a minha vida. O estranho, porém, é que meus livros de ficção não são nem um pouco autobiográficos. Eu já escrevi memórias, livros sobre fatos da minha vida. Mas meus romances são completamente imaginários. Todo mundo lá é imaginário. Muito pouco é baseado em fatos e pessoas que eu vivi ou conheci. Muito pouco é baseado em experiências próprias.

Em seus livros, é o acaso que guia os acontecimentos. Houve muitas coincidências em sua vida que o levaram até esse ponto da carreira?

AUSTER: Tudo parece ser um acidente. Em “The red notebook” (“O caderno vermelho”, inédito no Brasil) estão muitas histórias reais sobre fatos estranhos pelos quais eu próprio passei. A vida é muito imprevisível e posso dizer que coisas estranhas acontecem constantemente. O que faço é tentar transpor isso para minha ficção. Tento ser o mais honesto possível com a forma como enxergo o mundo.

Não é necessário dizer, então, que o senhor não acredita em destino...

AUSTER: Não, eu realmente não acredito em destino. Cada minuto de nossas vidas está aberto a questionamentos. As coisas podem mudar num instante e não conheceremos nossa história completamente até estarmos mortos. Não temos como dizer o que faremos ou onde estaremos no dia seguinte.

Entrevista concedida a André Miranda, O Globo.

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