fevereiro 12, 2007

Entrevista com Paul Auster: ‘Para mim, meus personagens são pessoas reais’

Primeiramente, parabéns pelo aniversário. E como é chegar aos 60?

PAUL AUSTER: Obrigado. Eu não sei bem. Acontece muito rápido. Parece que foram apenas 20 anos. É muito estranho. O tempo está acelerando.

É por isso que seus últimos protagonistas — Blank, de “Viagens no Scriptorium”, e Nathan Glass, de “Desvarios no Brooklyn” — também são mais velhos do que os protagonistas habituais?

AUSTER: Talvez seja porque estou começando a entender mais sobre esse período da vida. Você não consegue entender até chegar lá. As coisas mudam. Para mim, a idade mágica é os 50. Tudo começa a mudar aos 50. Seu corpo começa a quebrar ou falhar aos poucos, você não é forte e saudável como era. E uma coisa ainda mais importante do que isso é que muitas das pessoas que você amou ou com as quais se preocupou durante sua vida estão mortas. Você começa a caminhar por aí com vários fantasmas ao seu lado. Você começa a conversar com pessoas que não estão mais lá, quase tanto quanto com pessoas que ainda estão vivas. É uma experiência muito estranha.

Então é um sinal da idade que “Viagens...” faça referências a personagens de praticamente todos os seus livros anteriores?

AUSTER: Talvez sim. Para mim, meus personagens são pessoas reais. Sempre foram pessoas reais. Sei que soa estranho, mas eu acredito neles da mesma forma que acredito em alguém feito de carne, sangue e ossos. Eles vivem na minha cabeça. Até mesmo personagens sobre os quais eu escrevi há 20 anos, ainda penso muito neles. Volta e meia eles voltam à minha imaginação e, de certa forma, dialogam comigo.

Entrevista concedida a André Miranda, O Globo.

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